.A CIÊNCIA CONTÁBIL E SUAS ESPECIALIZAÇÕES

A Contabilidade é uma ciência social que estuda a riqueza patrimonial individualizada, sob os aspectos quantitativos e qualitativos, tendo entre seus objetivos a geração de informações e a explicação dos fenômenos patrimoniais, possibilitando o controle, o planejamento e a tomada de decisão, no enfoque passado/presente/futuro. Tudo isso, servindo aos mais diversos usuários, para que eles possam, por meio de seus atos buscarem a prosperidade da entidade e da sociedade.
Esse conceito, não restringe à ação da Contabilidade na medida em que discorre sobre a necessidade de suprir as expectativas informativas dos usuários a ela ligados. Porém, cabe observar a correlação existente entre tal ciência e outras formas de conhecimento, ou seja, existe uma relação intencional entre os estudos contábeis e as demais áreas do conhecimento.
Neste sentido, a visão da transdisciplinariedade é fundamental, sendo a mesma entendida como o encontro entre as ciências e destas com a filosofia, com a arte e com o espírito, buscando o desenvolvimento do pensar holístico e do agir localizado.
O conceito reforça, entretanto, que o objeto da Contabilidade é a riqueza individualizada e somente esta. Sem embargo, a isso se refere Lopes de Sá (LOPES DE SÁ, Antônio. Teoria da Contabilidade. São Paulo: Atlas, 1998, pp. 266-267.) quando descreve que “não se pode discutir o óbvio, de que a origem dos dados contábeis é a da movimentação de uma riqueza celular social, mas, quanto ao destino do informe, também é indubitável que serve ele ao interesse geral, com validade social, pois todos somos partes de um complexo” e continua o valoroso intelectual, “o que podemos, sim, em Contabilidade realizar, é um estudo das relações ambientais do patrimônio das empresas e instituições para que possam ser gerados informes úteis que por sua vez produzam um Balanço com visões do social”.
Concretamente, a Contabilidade não pode ficar presa a divulgação de demonstrações eminentemente financeiras e essa afirmação comprova-se no estudo das doutrinas e das teorias contábeis.

A Contabilidade e a Teoria da Economicidade

Dentre as várias teorias oriundas e aplicáveis aos estudos contábeis, este trabalho procura apresentar a Teoria da Economicidade, teoria essa derivada da Teoria das Funções Sistemáticas do Patrimônio Aziendal, por entender-se ser este conjunto de axiomas, princípios, conceitos, hipóteses e definições, necessários para o desenvolvimento do presente estudo.
De acordo com Lopes de Sá (LOPES DE SÁ, Antônio. Op. cit, 1998, p. 257.), a “Economicidade é a capacidade de vitalidade patrimonial que garante a sobrevivência da riqueza e que traduz a participação desta, interna e externamente ao mundo aziendal”
A premissa anterior relata que a Contabilidade, consubstanciada na Teoria da Economicidade, deve procurar traduzir a participação da riqueza individualizada tanto ao nível interno, quanto ao nível externo, pois a interdependência é indissociável.
Para reforçar, apresenta-se a figura 1, onde visualiza-se a economicidade (como objeto de estudos) e suas derivações (óticas: essencial – interna e ambiental – externa).
Figura 1.



Assim, a economicidade analisada sob o prisma interno – essencial -, abrange os assuntos relativos à vitalidade e à sobrevivência, demonstrando a participação da riqueza no sistema endógeno da organização.
Se examinada, todavia, em face dos fatores ambientais, a economicidade passa a preocupar-se com a circulação da riqueza, em seus fluxos e refluxos para o ambiente externo, ou seja, o que ela influência e o que recebe de influências do mundo exterior.
Porém, segundo Lopes de Sá (LOPES DE SÁ, Antônio. Op. cit. 1998, p.259.), “contabilmente, o que se buscará, sempre, será conhecer a eficácia da riqueza aziendal, ainda que espelhada no ambiente que a cerca, ainda que refletida para objetivos diversos”. Ou seja, a Contabilidade neste enfoque específico procura demonstrar a mutação da riqueza individualizada com base nos fluxos e refluxos oriundos dos vários continentes (ambientes internos e externos), entretanto, não estuda a origem exógena dos fenômenos.
Exemplificando têm-se: 1) a Contabilidade estuda os reflexos de um blecaute no patrimônio organizacional, sem todavia, estudar a origem de tal fato – sendo este, objeto de estudo de outra área do conhecimento; 2) a Contabilidade apresenta a riqueza gerada pela entidade e sua forma de aplicação, entretanto, cabe aos mais diversos usuários estudarem a relevância e aplicação de tal informe.

As especializações da Contabilidade

A Contabilidade, assim como as outras ciências, pode ser estuda sob enfoques particulares, o que neste trabalho denomina-se de especializações.
Conceitualmente, poder-se-ia entender o especialista como uma pessoa que sabe quase tudo sobre quase nada, se orgulha pela sua unilateralidade de visão e que perdeu, muitas vezes, o poder da inteiresa. Entretanto, o sentido que se quer denotar é justamente o inverso.
Para facilitar o estudo contábil, ramifica-se este conjunto em partes menores, a fim de compreender melhor sua organização, mas sem jamais esquecer a visão global. Cumpre, transcender o enfoque da especialização, pensando holísticamente e agindo localmente.
A figura 2 demonstra que a ciência contábil ramifica-se em uma gama de especializações (Contabilidade Gerencial, Agrícola, Pública, Comercial etc.), sendo que cada uma delas estuda o patrimônio sob uma ótica particular, conforme especifica sua identificação. A determinante disso são as diversas atividades desenvolvidas pelas organizações, as políticas adotadas, os interesses dos usuários, as normas governamentais, dentre outras.

Figura 2



Fonte: KROETZ, Cesar Eduardo S. (45:1998).

No afã de manter a Contabilidade atualizada e atenta aos interesses dos seus usuários, volta-se a atenção para uma “nova” especialidade, a Contabilidade Social, que pode ser vista como uma parte da ciência contábil que procura estudar as influências das variações patrimoniais não apenas nas entidades, mas também na sociedade e no meio-ambiente.
A efetivação e êxito dessa especialidade requer que a organização adote como forma de gerir, uma gestão eminentemente participativa, envolvente e comprometida com todas as camadas que formam o sistema social e organizacional, tendo como instrumento de controle e prevenção a Auditoria Social e demonstrando as mutações quantitativas e qualitativas por meio do Balanço Social, que tem a função de complementar as demonstrações já, tradicionalmente, extraídas dos registros contábeis.

2. A CONTABILIDADE SOCIAL

De acordo com o exposto, é possível compreender a entidade como uma relação entre pessoas, produção e plenitude. Ou seja, contemporaneamente são organismos empreendedores, nos quais o ser humano é capaz de desenvolver sua vocação.
E, é nesta entidade, por meio da mutação da riqueza individualizada, que ocorre a interligação com o ambiente externo, influenciando-o diretamente e, também, recebendo influências provenientes do mundo exterior. Como assegura Lopes de Sá (LOPES DE SÁ, Antônio. Op. cit. 1998, p.262.) “há uma responsabilidade social inequívoca entre a empresa e a sociedade.”
Na realidade, em termos da Contabilidade Social busca-se a verdade (impactos) sobre a circulação da riqueza entre a entidade e a sociedade – causa e efeito.
Segundo Silva et alli (SILVA, João Pina da, et alli.. Novos Desenvolvimentos da Contabilidade: A Contabilidade Social. Revista: Revisores & Empresas. Lisboa – Portugal: a.1, n. 1, abr/jun. 1998, p.31.) “medir esses impactos é uma tarefa que apresenta inúmeros problemas metodológicos difíceis de ultrapassar. Por isso, existe grande interesse em que o desenvolvimento da informação social não se processe de uma forma anárquica, em que cada empresa informe do que lhe convém, utilizando critérios e medidas particulares variáveis e discutíveis”.
Neste contexto, surge a Contabilidade com sua cultura e tecnologia oferecendo, conjuntamente, aos profissionais da área, um instrumental capaz de gerar, demonstrar e analisar a responsabilidade social e ecológica das entidades.
Por isso, além da proposta de uma reflexão sobre a responsabilidade social do Contador, exercida pela Contabilidade, deve-se mostrar o alcance atual dessa ciência, chamando atenção para um vasto campo ainda a ser explorado, especificamente, na área social.
Ramanathn [1976] (apud Silva et alli (SILVA, João Pina da, et alli. Op.cit. p.31.) ), afirma que na década de setenta conceituava-se Contabilidade Social como “(...) um processo de seleção de variáveis, medidas e procedimentos para avaliar a atividade social da empresa com o objetivo de produzir informação relevante e divulgá-la aos públicos interessados, internos e externos”. E acrescenta, “que mais recentemente, Gray et al. (1996) a definem como (...) um processo de divulgação, a grupos particulares e à sociedade em geral, dos impactos sociais e ambientais resultantes da atividade econômica das organizações, que vão para além da informação econômica e financeira que é fornecida aos detentores do seu capital”.
Mas, esse conceito de Contabilidade Social permanece ainda muito vago ou pouco aplicável. Não é surpreendente, portanto, que poucas organizações tenham arriscado a publicar um Balanço Social que contenha em seu espírito uma dupla intenção: 1) de prestar conta das ações benéficas e maléficas originadas pela entidade no meio em que atua; e, a segunda, de 2) prever e controlar as ações que poderão ter conseqüência sobre a sociedade e o meio ambiente.
Conclusivamente, de acordo com Silva et alli (SILVA, João Pina da, et alli. Op.cit. p.31.),
...de momento, a Contabilidade Social apresenta ainda muitas limitações que se explicam pelo seu estado relativamente embrionário (convém notar que a Contabilidade Financeira vem evoluindo e sofrendo aperfeiçoamento desde há 5.000 anos, enquanto que as preocupações com os problemas sociais só aparecem na década de sessenta). Não obstante, constitui uma divisão da Contabilidade que não pode ser ignorada pelos profissionais desta área científica, em virtude das suas potencialidades para melhorar significativamente os modelos existentes de avaliação da eficácia das empresas.

Genericamente, a Contabilidade Social visa criar um sistema capaz de inventariar, classificar, registrar, demonstrar, avaliar e explicar os dados sobre a atividade social e ambiental da entidade, de modo que no final de cada exercício ou a qualquer momento se possa preparar informes como o Balanço Social e a Demonstração do Valor Adicionado.

3. O BALANÇO SOCIAL

Como visualizado na figura 2, o Balanço Social é uma demonstração que pode ser classificada como o produto mais significativo da Contabilidade Social, porém ainda não encontrou sua maturidade metodológica, como é possível comprovar-se em algumas pesquisas históricas na seqüência descritas.
Seguindo os resultados das pesquisas realizadas por Tinoco (TINOCO, João E. P. Balanço Social: uma abordagem sócio-econômica da contabilidade. São Paulo: FEA-USP, 1984.p.25.), sabe-se que no início dos anos 60, por causa da guerra do Vietnam, o governo Nixon (EUA) e as entidades que o apoiavam foram severamente criticadas, como acentua o citado autor: “Clamava-se pelo fim da guerra e por outro lado exigia-se que as empresas adotassem nova postura, moral e ética perante os cidadãos”. Neste momento, exigem-se informações relativas às relações sociais da entidade, dentro e fora dela. Assim, surgem as primeiras informações sociais, que são publicadas junto com o balanço patrimonial.
Na mesma linha de raciocínio, Carvalho (CARVALHO, J. Eduardo. O Balanço Social da Empresa: Uma abordagem sistêmica. Portugal: Editorial Minerva, s/d. p.65.) pontua que “este novo instrumento parece ter sua origem no EUA, no final dos anos 60, precisamente como resposta empresarial a um movimento progressivamente contestatório e imerso na escala de valores peculiar da vida norte-americana, que chega a pôr em causa o valor das organizações relativamente ao seu contributo para o meio em que se insere”.
Porém, para A. Lopes de Sá (CARVALHO.op.cit. 1995, p.54.), o Balanço Social “representa a expressão de uma prestação de contas da empresa à sociedade em face de sua responsabilidade para com a mesma”, e parece ter sido, inicialmente, desenvolvido na década de 50, embora “na Alemanha, em 1939, a empresa AEG já publicasse tal peça”.
Na França, por sua vez, alguns pesquisadores na década de 70, propuseram-se a reunir e comentar dados estatísticos correntes, uma vez que perceberam que com este trabalho a abordagem dos problemas sócio-econômicos da nação, como por exemplo, a relação do emprego, a mobilidade social e a utilização do lucro se traduziam com mais propriedade. Assim, a Contabilidade evoluiu sob a influência de pressões externas cada vez mais intensas, o que significava uma pressão social a exigir uma revolução nos procedimentos contábeis até então aplicados.
Ocorre, que a guerra do Vietnam, os movimentos estudantis na França e Alemanha, e o aumento dos problemas sociais fazem com que as iniciativas se multipliquem, iniciando-se a discussão sobre a responsabilidade social das organizações e, também, procurando-se uma forma científica de prestar essas informações à sociedade. Surge então a proposta de uma demonstração denominada genericamente de Balanço Social, ou de “social audit” para os norte-americanos, de “sozialbilanz” para os alemães e “bilan social” para os franceses. São as primeiras manifestações em países avançados e podem ser caracterizadas como:
a) Social Audit - (modelo norte- americano) traduzido em termos monetários, como quantificador de vantagens e prejuízos sociais, e visando completar futuramente o balanço financeiro tradicional. Tem como objetivo cuidar da imagem da empresa;
b) Bilan Social - proposta francesa que deu origem à lei 77.769 de 12/07/1977, baseada na idéia de conciliação com os trabalhadores;
c) Die Sozialbilanz - estilo alemão que tenta sintetizar os dois modelos existentes (americano e francês).
Os portugueses também aderiram ao Balanço Social, tornando-o obrigatório por meio da regulamentação expressa na Lei 141 de 14 de novembro de 1985, que teve suporte no projeto da ex-ASDI (Acção Social-Democrata Independente).
São características desta lei: a) obrigatoriedade de apresentação para todas as empresas públicas e para as empresas privadas com mais de cem empregados; b) as informações atendem basicamente a área de recursos humanos; e, c) a apresentação do Balanço Social dá-se sob a forma de formulário a ser preenchido pelas empresas que se enquadram nas condições exigidas pela legislação.
A forma portuguesa foi bastante questionada e criticada, principalmente, pela Confederação da Indústria Portuguesa, que a considerava “inoportuna, desajustada das realidades e gravemente atentatória dos interesses econômicos do País” (CARVALHO.op. cit. p. 117.).
Tal reação poderia ser esperada uma vez que o Balanço Social português restringe-se ao preenchimento do formulário anexo à lei, englobando uma série de dados sobre a situação dos recursos humanos da entidade e nada mais.
Observa-se que, na Alemanha a Shell, a Bertelsman e a Hoechst; na França a Savien, a Renault e a Siger; nos EUA a Exon; a Mygros na Suíça; no Chile as Manufaturas de Cobre S.A - MADECO, a Asociación Chilena de Seguridad, SAACOL & CODIGAS, entre outras, são exemplos de empresas que estudam e publicam Balanços Sociais, que servem de suporte aos novos estudos e descobertas de novas abordagens. Todavia, é importante realçar que a adoção desses novos modelos implica na sua adaptação à realidade local, sob pena de não serem atendidos os interesses dos usuários internos e externos, que têm suas peculiaridades e objetivos diferenciados em relação aos usuários dos países citados.

Conceito de Balanço Social

Este trabalho tem como premissa e aceita como conceito a designação de que: o Balanço Social representa a demonstração dos gastos e das influências (favoráveis e desfavoráveis) recebidas e transmitidas pelas entidades na promoção humana, social e ecológica. Sendo que, os efeitos dessa interação dirigem-se aos gestores, aos empregados e a comunidade, no espaço temporal passado/presente/futuro, tornando-se parte integrante da Contabilidade Social, configurando-se numa demonstração para a sociedade e não da sociedade.

Relevância da demonstração

As “novas” exigências do mercado, influenciado pela globalização, por um público mais consciente e por investidores mais exigentes e preparados, têm feito com que as organizações publiquem suas demonstrações com maior transparência e qualidade, evidenciando os aspectos qualitativos do patrimônio e, ao mesmo tempo, a sua preocupação com o bem estar social e ambiental. Este ponto de vista é o mesmo de Antonio Castilla Perez (PEREZ, Antonio Castilla. La profesión contable hoy y a futuro. Revista Brasileira de Contabilidade. Brasília: a.26, n. 103, jan./fev. 97p. 64.), ao afirmar que “... se está creando conciencia que ‘desarrollo económico’ y ‘protección del medio ambiente’ están estrechamente vinculados y, que en largo plazo no puede existir uno sin el outro”.
Para demonstrar a importância do Balanço Social, Posada e Ramirez (GONÇALVES, Ernesto Lima (Coord.). Balanço Social da Empresa na América Latina. São Paulo: Pioneira, 1980, p.12. p.7.), no livro Balanço Social da Empresa na América Latina, afirmam que “com o tempo, ocorrerá o que hoje se passa com a Contabilidade: ninguém pensa que possa haver uma empresa sem Contabilidade, porém, todos vemos que a Contabilidade não é toda empresa”.
O Balanço Social, antes de ser uma demonstração endereçada à sociedade, é considerada uma ferramenta gerencial, pois reúne dados qualitativos e quantitativos sobre as políticas administrativas, sobre as relações entidade/ambiente e outros, os quais poderão ser comparados e analisados de acordo com as necessidades dos usuários internos, servindo como instrumento de controle e de auxilio para a tomada de decisões e adoção de estratégias.

Metodologia de apresentação do Balanço Social

A proposta a ser apresentada tem como premissas básicas: (1) representar as demandas/interesses dos usuários; (2) demonstrar as influências, favoráveis e desfavoráveis, recebidas e transmitidas pelas entidades, na concepção sistêmica que a une com a sociedade; e, (3) basear-se no espaço temporal passado/presente/futuro.
Sugere-se assim, como espinha dorsal do Balanço Social os sete tópicos a seguir.

Apresentação da entidade;
Demonstração das influências, favoráveis e desfavoráveis transferidas para o ambiente endógeno e exógeno;
Demonstração das influências, favoráveis e desfavoráveis recebidas do ambiente endógeno e exógeno;
Demonstração do valor adicionado;
Desenvolvimento de projetos futuros de impacto social e ambiental;
Indicadores de qualidade; e,
Outras observações e informações relevantes.
No entanto, observa-se que a Demonstração do Valor Adicionado encontra-se associada à esta estrutura, porém reconhece-se a sua autonomia, como demonstração que tem caraterísticas próprias, podendo ser divulgada em separado do Balanço Social, até por ter enfoque quase que exclusivamente econômico.
Na verdade, os tópicos, sugeridos para a construção do Balanço Social, poderão ser modificados (ampliados/reduzidos) de acordo com a realidade da entidade. Cabe ao grupo responsável pela preparação e elaboração estudar e escolher a melhor forma de apresentação, ou seja, poderão ser divulgados os dados em forma de indicadores, de gráficos representativos, de valores monetários, de descrições, entre outras possibilidades.
A proposta tem a intenção de aglomerar algumas das informações consideradas fundamentais, para caracterização do Balanço Social, não discutindo detalhes da apresentação.
Observa-se ainda, que a demonstração de informações consideradas negativas não constitui prática comum entre os balanços divulgados. Entende-se porém, que o Balanço Social por representar o conjunto de influências, recebidas e transmitidas, na relação da entidade/sociedade congrega informações favoráveis e desfavoráveis, sendo de vital importância seu estudo e divulgação, tanto internamente, como um instrumento gerencial, quanto externamente por apresentar para a sociedade alguns informes sobre a realidade organizacional.
Muitos administradores podem ficar com receio de divulgar indicadores que demonstrem fraquezas organizacionais, porém cabe diagnosticar tais eventos e procurar solucionar ou prevenir novas ocorrências desfavoráveis.
Assim, no Balanço Social, seria possível apresentar indicadores como absenteísmo, número de acidentes de trabalho, multas, número de reclamações de clientes e outros, numa forma evolutiva, ou seja, demonstrando que a entidade preocupada com tais influências vem desencadeando ações com a intenção de reverter e/ou melhorar esse cenário.
Mais uma vez, o Balanço Social, bem preparado pela entidade poderá demonstrar para a sociedade sua preocupação e sua responsabilidade social/ecológica, buscando aprimorar continuamente seu relacionamento com o ambiente interno e externo, mesmo sabendo que continua a exercer influências desfavoráveis, mas com o objetivo de sanar gradualmente tais reflexos, com o apoio do quadro funcional e da sociedade envolvida, não escondendo tais ações, mas procurando debate-las e melhorá-las.

4.TENDÊNCIA DAS INFORMAÇÕES CONTÁBEIS

A informação é a transformação dos dados, em forma e conteúdo apropriados, para uso particular (determinado), ou seja, é uma resultante dos dados processados de maneira que tenham significado ao receptor, alterando as suas expectativas e/ou a sua visão em relação as alternativas disponíveis.
Em termos contábeis objetiva-se aprimorar o atual sistema informativo, gerando informação com qualidade, na plenitude do conceito apresentado. Para tal, se faz necessário preparar o sistema com base nas doutrinas e nas necessidades do usuário.
Reforçando, a informação com qualidade é a que causa surpresa ao usuário; é esperada e desejada; serve de base para avaliar a situação, abrindo um leque de alternativas, fornecendo maior confiabilidade e segurança ao processo de tomada de decisão. Porém, acrescenta-se, que a qualidade da informação depende da confiança do usuário no sistema que a gerou.
Sem embargo, observa-se que o processo de busca da informação ideal requer uma série de requisitos, para que a mesma tenha valor, ou seja, na tomada de decisão o valor da informação está associado ao seu custo e utilidade. Ou ainda, a relevância da informação é muito subjetiva, pois sua utilização é singularizada para cada usuário.
Assim, o sistema contábil que é, na realidade, um grande acumulador de dados e gerador de informações, representa um instrumento justo de apoio a gestão, mas que nas mãos de pessoas não justas poderá ser um instrumento não justo, oferecendo perigo para a sociedade e para a entidade.
A atual composição do sistema de informação contábil merece reformulações, agregando ao grupo de demonstrações financeiras já divulgadas, outras de caráter social e ecológico, sendo uma destas o denominado Balanço Social.
No Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) apoia e incentiva a divulgação do Balanço Social e, devido a importância e ao crescente interesse sobre o tema, resolveu não emitir qualquer ato normativo obrigando a elaboração e divulgação dessa demonstração, transferindo o debate para o Congresso Nacional, onde o assunto terá uma abordagem mais ampla.
Entretanto, a CVM proporá a inclusão da divulgação de informações de natureza social, no anteprojeto da reformulação da Lei 6.404/76, além da Demonstração do Valor Adicionado.
Quanto a imposição legal da demonstração do Balanço Social, acredita-se pelos estudos e pesquisas realizadas, que a obrigatoriedade não contribui efetivamente para a evolução da responsabilidade social e ecológica das entidades, sendo recomendável demonstrar a relevância de sua preparação e divulgação, aos administradores e demais usuários.

EXPRESSÕES FINAIS

Observando o contexto conclui-se, efetivamente, que o mundo está interconectado e que as decisões administrativas tomadas no presente podem ter influência tanto na organização (internamente), quanto no ambiente externo. Disto resulta a necessidade de manter a sociedade informada das políticas organizacionais que podem influenciar os rumos da aldeia global.
Existe uma interação indissociável entre a entidade e a sociedade e, esta interdependência provoca influências, intencionais ou não, para com ambas.
Neste sentido, a Ciência Contábil pode contribuir de maneira significativa, desenvolvendo estudos e preparando demonstrações contábeis que contenham informações sociais e ecológicas, provenientes da mutação da riqueza individualizada. É possível em Contabilidade, realizar estudos das relações ambientais do patrimônio organizacional para que possam ser gerados informes úteis, que por sua vez, produzam demonstrações com visões sociais.
Entretanto, a uniformidade e a coerência das práticas de Contabilidade Social entre as entidades, só serão alcançadas à medida que a experimentação e a divulgação das experiências forem permitindo definir princípios e regras, objetivos e procedimentos para medir, divulgar e interpretar a informação sócio/ecológica produzida.
Por conseqüência, a maturidade metodológica e doutrinária da demonstração Balanço Social acompanha a conclusão anterior, sendo que em sua fase inicial de desenvolvimento, não será certamente desejável a imposição de um modelo único, seja por regiões, por espécie de organizações, por setores de atividade ou por qualquer outra classificação. É certo que a definição de modelos similares poderiam ter utilidade imediata, na medida em que é lógico supor que entidades com mesmas características enfrentam situações semelhantes.
Conclusivamente, cumpre a comunidade acadêmica e as entidades ajustarem-se aos novos cenários e tendências, objetivando aperfeiçoar continuamente as bases culturais e doutrinárias da ciência contábil, aprimorando a concepção utilitária e teórica de tal área do conhecimento, em benefício de seus usuários (internos e externo).